Desde 2019, o mundo está enfrentando a pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2). Considerando que o vírus faz parte do grupo SARS, ou melhor, causa síndromes respiratórias agudas severas, os meios de transmissão do vírus são, principalmente, espirros, tosses, cumprimentos e mesmo toques em objetos inanimados que foram, anteriormente, contaminados. Assim, medidas de segurança e higiene foram implementadas para a diminuição do contágio, como o isolamento social, utilização de máscaras, álcool em gel e limpeza das mãos com sabonetes.
Tais medidas foram, por vezes, refutadas por grupos negacionistas e, desta forma, nós da empresa Farma Júnior, viemos explicar sobre os impactos positivos do hábito de lavar as mãos, como forma de combater a crise sanitária na qual estamos vivendo.
Para compreendermos a ação dos sabões e sabonetes na estrutura do SARS-CoV-2, precisamos entender antes acerca de sua própria estrutura.
Estrutura do SARS-CoV-2:
O vírus com o qual estamos lidando neste momento, faz parte da ordem Nidovirales e da família Coronaviridae. Desta família, apenas dois gêneros do vírus infectam seres humanos (Alpha-CoV e Beta-CoV), sendo o COVID-19 uma espécie muito contagiosa do gênero Beta-CoV. Ademais, o SARS-CoV-2 é um retrovírus, ou seja, possui como material genético apenas um fita simples de RNA, que deve ser enviada para dentro das células do corpo hospedeiro.
Quando observamos a estrutura deste vírus, percebemos que este possui um envelope de membrana entorno de seu capsídeo, isto é, além da estrutura base de todos os vírus, este possui uma bicamada de fosfolipídeos, extraída da célula hospedeira, a mais, como forma de proteção. Nesta membrana, podemos observar a presença de proteínas essenciais para a reprodução do vírus, como é o caso das glicoproteínas spike (S); proteínas da membrana (M); e proteínas envelope (E).
As glicoproteínas spike são responsáveis pela associação do vírus aos receptores da célula alvo/hospedeira (tecido mucoso do sistema respiratório), que facilitam a fusão das membranas e, posteriormente, a infecção da célula.
Para saber mais sobre a estrutura do SARS-CoV-2 apertando aqui.
Ação dos sabões:
Os sabões são sais anfipáticos, assim, possuem partes polares e partes apolares em sua estrutura. Desta forma, seu mecanismo de ação (limpeza) se baseia na formação de pequenas estruturas (com formato esférico) chamadas de micelas. Tais estruturas acabam por direcionar as regiões apolares de diversas moléculas de sabão para dentro, enquanto as partes polares são apontadas para fora.
Determinada organização permite a retirada de sujeiras de uma superfície, pois o objeto a ser retirado irá se ligar às pontas apolares das moléculas de sabão (região interna da micela), ao passo que as micelas são carregadas com a água para longe da superfície em questão.
Mecanismo de limpeza dos sabões em relação ao SARS-CoV-2:
O mecanismo de limpeza depende de três ações do sabão sobre o vírus, sendo estas: mecanismo de ruptura da membrana, mecanismo de elução simples e mecanismo de captura viral.
Mecanismo de ruptura da membrana:
A região hidrofóbica (apolar) dos fosfolipídeos do envelope do vírus interage com a parte apolar das moléculas de sabão, estabelecendo uma interação via hidrofóbica-hidrofóbica. Entretanto, existe um limiar de concentração de surfactantes que, a partir do momento que é atingido ou ultrapassado, acaba por saturar os fosfolipídeos, rompendo a membrana envelope do vírus que o protegia. Assim, o vírus acaba por ser inativado por meio de sua desintegração em fragmentos.
Mecanismo de elução simples:
É errado afirmar que a ruptura da membrana ocorre em todos os vírus presentes na superfície em questão. Desta forma, o mecanismo de elução simples é essencial para a proteção do indivíduo.
Este mecanismo consiste na adição de soluções de sabão que, por possuírem tensão superficial baixa, se movimentam e passam por entre os vírus, sendo absorvidos pela superfície do vírus, estabilizando-a e impedindo que se agregue a um espaço em questão.
Mecanismo de captura viral:
Quando o limiar de concentração a formação de micelas se inicia. Como isso, a micela prende o vírus em seu interior por meio da relação hidrofóbica-hidrofóbica entre as partes apolares do vírus e das moléculas de sabão. Com a captura do vírus para dentro da micela, aquele perde contato com outras estruturas, como a superfície antes contaminada, sendo enxaguado junto da micela ao fim da lavagem.
Entretanto, considerando que as micelas estão na escala de nanômetros (assim como os vírus), existe a possibilidade de as micelas não conseguirem cobrir toda a extensão do vírus, prendendo-o para que não fique aderido a algo.
É importante compreender que para a eficácia da limpeza com sabão, mais de uma ação citada deve ocorrer, considerando que nenhuma sozinha garantiria a limpeza total da superfície. Assim, com a ação surfactante do sabão mais o atrito oferecido pelo esfregar das mãos (que deve ser feito por toda a extensão das mãos até os pulsos), entende-se a presença de todas as ações e uma higiene eficaz.
Efeito da temperatura durante a lavagem das mãos:
Em altas temperaturas, a habilidade de penetração da molécula de surfactante aumenta, o que é tanto positivo quanto negativo, pois, ao lavarmos as mãos, existe, também, o aumento da penetração de surfactante na nossa pele, o que pode causar danos nas camadas mais profundas da pele. Portanto, altas temperaturas devem ser bem avaliadas, pois podem causar prejuízos à saúde do indivíduo.
Entretanto, em casos de lavagem de objetos e roupas, o uso de água quente é indicado caso o material não seja lesado.
Para saber mais sobre o impacto dos sabões na estrutura do SARS-CoV-2, aperte aqui.
Conclusão:
Devemos lavar nossas mãos com sabão, sempre que possível, esfregando-as de forma correta por, no mínimo, 20 segundos, como indicado pela OMS. A utilização de água quente deve ser analisada, pois pode causar malefícios à pele.
Para mais informações sobre como se cuidar durante a pandemia do COVID-19, veja nossa publicação “Ligação entre alimentos e imunidade”, “Vitamina D: Qual sua importância e como obtê-la na pandemia?” além de manter-se atento às publicações do nosso blog.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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- Dutta, Joystu, et al. COVID-19 and Emerging Environmental Trends: A Way Forward. Google Books, CRC Press, 23 Nov. 2020. Acesso em: 26 mar. 2021.
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- FRANZOL, Angélica; REZENDE, Mirabel Cerqueira. Estabilidade de emulsões: um estudo de caso envolvendo emulsionantes aniônico, catiônico e não-iônico. Polímeros, São Carlos , v. 25, n. spe, p. 1-9, Dec. 2015. Acesso em: 26 mar. 2021.
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